
Agagueira foi um traço marcante na vida de Assis Chateaubriand. Ele gostava de atribuir a essa peculiaridade da fala a obsessão com tudo que se relacionava ao ato de comunicar. Por isso, faz tanto sentido o título Chatô e os Diários Associados — 100 Anos de Paixão, o musical que conta a história de um dos maiores empresários das comunicações do Brasil, o homem que trouxe para o país a televisão, fez do rádio um fenômeno, além de se debruçar sobre um império que incluía jornais e uma habilidade particular para convencer os outros a investirem no país. O musical chega a Brasília na próxima quarta-feira e será apresentado no Centro de Convenções Ulysses, em duas sessões.
O ponto de partida para o musical foi o livro Chatô: o rei do Brasil, biografia na qual Fernando Morais esmiúça a vida do empresário. Eduardo Bakr trabalhou com o autor para adaptar o texto, que tem mais de 700 páginas, para o palco. Para dar forma dramatúrgica ao livro e aproximar o público contemporâneo, Bakr criou Fabiano e Juliana, personagens fictícios que voltam no tempo para revisitar a trajetória de uma das figuras mais complexas da história da comunicação no país. Fabiano é um jornalista desiludido e descrente quando se depara com a estátua de Chatô, que o leva para uma aventura cheia de figuras históricas.
Bakr explica que foi preciso fazer escolhas, já que a vida de Chatô é repleta de fatos que fazem parte da história do Brasil. Ele trabalhou em parceria com Morais, "um parceiro incrível que domina a vida do Chatô como ninguém". "O que fiz foi fazer um recorte que privilegia a importância do Chatô para a comunicação no país. Ele era uma figura fundamental. Sempre sonhou em ter o próprio jornal, então comprou o jornal. Ele cria a própria rádio e traz uma série de inovações para o país. E como não sossegava trouxe a TV para ao país e fundou a primeira TV brasileira e ajudou na entrada dos aparelhos de tevê no país", conta.
Além disso, o empresário armou o palco de seus veículos para divulgar a cultura de forma geral. Até então, as rádios, que existiam no Brasil desde 1922, costumavam contemplar talentos locais em seus programas. Com a Rádio Nacional e a Rádio Tupi, nos anos 1930, Chatô expandiu o olhar e se abriu para o Brasil, permitindo o surgimento de algumas das maiores vozes da cultura brasileira.
Na televisão, com a Tevê Tupi, o empresário seguiu o mesmo caminho. "O Chatô ecoa até hoje na nossa comunicação, por meio dos Diários Associados, fundamental para união da comunicação no país. Se não tivesse semeado isso, a gente estaria engatinhando", diz Bakr. Nomes como Carmen Miranda, Hebe Camargo e Lolita Rodrigues foram revelados em programas veiculados nas rádios e tevês de Chatô.
O diretor Tadeu Aguiar explica que o segundo ato do musical, que tem supervisão musical de Guto Graça Melo e coreografia de Carlinhos de Jesus, é mais focado na televisão. "Criamos um espetáculo visualmente interessante, quase óbvio, tentamos fazer uma coisa mais objetiva e menos subjetiva para as pessoas entenderem mesmo", avisa. O cenário foi dividido em dois, com o escritório do Chatô de um lado e um espaço múltiplo, no qual se am todas as outras cenas, do outro.
"Esse outro espaço se torna os espaços que saem da cabeça do Chatô", conta Aguiar. Réplicas de objetos de época, como as máquinas de escrever utilizadas nas redações, as próprias televisões e as câmeras, marcam a cenografia. No total, 20 atores vivem os personagens e cantam um repertório com mais de 50 músicas, muitas delas clássicos da MPB assinados por compositores, como Caetano Veloso, Gal Costa e Ivan Lins.
O espetáculo, segundo Tadeu Aguiar, é uma forma de conhecer a história do Brasil por meio de um personagem chave para as comunicações. "É importante a gente conhecer essa história, e em uma produção muito rica e bem cuidada", garante. São mais de 300 figurinos criados especialmente para o musical, que estreou em março no Rio de Janeiro, ou por Belo Horizonte e, de Brasília, segue para São Paulo.
Classificação Indicativa: 10 anos - Chatô e os Diários
Associados — 100 Anos de Paixão
Quarta-feira (11/6), às 16h e às 20h, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Ingressos:
de R$ 50 a R$ 200. Não recomendado para menores de 10 anos
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